Eu pelo avesso pdf download
Os porteiros tornaram-se mais exigentes comigo e com o gravador que carregava sempre. A sala da chefia do expediente foi o local onde se realizaram as entrevistas. As conversas com os presos se realizavam num canto desta sala, no intervalo entre essas duas mesas.
No entanto, aparentemente, o objetivo principal do controle se voltava para as perguntas formuladas pelo pesquisador cujo teor era desconhecido. The Presentation of self in every day life, NY, Doubleday, , p. Durante o percurso, estive sempre acompanhado do chefe do expediente, que orientou na maioria das vezes o seu rumo. Apesar do orgulho com que o chefe de disciplina se referia a estas atividades, eram poucos os que estavam efetivamente dedicados ao trabalho: cerca de vinte pessoas.
As portas eram estreitas e mal cabiam uma pessoa. Mesmo que as portas estivessem fechadas, era regra da cadeia manter as trancas abertas.
Era proibido fechar-se na cela, dizia o chefe do expediente. Diante da minha manifesta curiosidade em conhecer o interior de uma cela, o chefe do expediente parou em uma das portas, abriu e foi entrando. Na verdade, podia-se descrever uma delas como um corredor de pouco mais de 1,5m de largura por 3,5m de comprimento onde se encaixavam 4 beliches. A luz ficava acesa obrigatoriamente 24 horas, e um dos presos que acordava cedo e que dormia na cama de cima do beliche, tinha inventado um quebra-luz de papel que o protegia durante o sono.
Os que ficavam em baixo tinham o recurso de pregar uma cortina para poder descansar no escuro. No mesmo andar, do lado esquerdo de quem sobe a escada, logo a primeira cela parecia diferente das outras. A primeira atitude foi procurar o chefe de disciplina e anunciar a visita. Este setor funcionava com o trabalho dos presos.
Do lado esquerdo ficavam as celas E externo , mais amplas e com grande quantidade de presos. O carcereiro abriu uma delas. No fundo desse corredor ficava o setor das celas-forte. De vez em quando apareciam alguns rostos nas janelinhas, mas nenhuma palavra. O lugar fedia muito e era muito escuro. Os presos referiam-se a tais regras como as leis da massa. Poder-se-ia pensar que massa era o conjunto dos presos ou dos criminosos ou um subgrupo deles.
Quer dizer, esse Vai acontecer isso, sou malandro, sou homem Na cadeia, nem todos os presos tinham recursos para negociar ou comprar algo extra para si, que tanto podia ser uma comida melhor, como uma roupa, ou um cigarro para fumar.
Alguns recebiam aos domingos, na visita de familiares e amigos, esse pouco mais. Por que acontece isso? Se acontece alguma coisa Por que? Como assim? Agora tem casos graves aqui dentro. Sempre ficou em conversa, na paz. Quer dizer, o puto, o boy na cadeia Cobertura em caso de briga. Todo cara que tem mulher aqui dentro tem que sustentar? Tem, claro. Mas quando questionado sobre o motivo das brigas na cadeia negou que elas se dessem em torno do homossexual.
Ficaram com medo de que acontecesse alguma coisa? Eu optei por xadrez sozinho. Aqui dentro mesmo faz sobrancelha, se escandaliza, se escracha. Depois que vim pro 2 as coisas melhoraram Dizem que existe muita briga por causa Nunca existiu na cadeia um crime relacionado com um detento que tivesse algo com um homossexual passivo ou um efeminado.
Mas isso raramente acontece. Mora separado? Acontece mas evita. Mas aqui tem um travesti chamado Katia, ela era da Aquela era pra ser uma mulher, mulher mesmo.
O que pratica o ato de pederastia somente o ato de pederastia, o malandro, tem como adiantar o lado. Ele adianta. Com 6. Caguetando como? O que acontece com um cara assim? Se eu sou um cagueta, eu estou caguetando aquele pro senhor, acontece que noutro dia a senhor faz uma asneira e eu posso chegar para o superior e falar que o senhor fez isso, isso.
Pro chefe de disciplina. Fala pro chefe de disciplina. Falou mesmo, que foi ele quem caguetou. Mas eu digo uma coisa, esse elemento ainda vai morrer dentro de uma cadeia, porque ele ficou manchado pro resto da vida dele. Na verdade, eram eles que tinham a oportunidade de preencher as poucas vagas de atividades para presos existentes na cadeia e portanto procuravam evitar qualquer problema que questionasse suas vantagens ou aumentasse o tempo de cadeia.
Se ele pede 2 pacotes de cigarro emprestado, ele paga certo. Depende da pessoa. Vou levar uma pra mostrar que sou malandro. O cara chega aqui se transforma inteiramente. Diz o que? E fiz isso, faz aquilo na rua, troquei tiro, matei.
Se precisar matar o outro ele mata. O sujeito faz uma bobagem ele mata. Atualmente aqui dentro existe a falso malandro. Eu mesmo no outro xadrez que eu morava, era meu dia de fazer faxina sozinho, mas tinha sempre 2 ou 3 meus companheiros que sempre me ajudavam. Entra uma gurizada de 17, 18 anos com 50, 60 assaltos. Tudo 18, 19 anos O loque acabava servindo aos outros de modo degradante. O laranja era definido como o loque, antes de vir para a cadeia.
Por que chamam laranjas? Por que falso bacana? Existem duas formas de perceber o falso bacana. Mas ele veio com o nome feito pelo jornal. As categorias vagabundo, piolho e serrote ou mancha do xadrez, rato de xadrez todas se opunham a malandro de uma forma negativa.
Ao pensar estes tipos pejorativamente os presos estavam portanto confirmando este modelo. O senhor deixa o cigarro aqui e vem o serrote.
Ele vem pra cadeia porque gosta da cadeia. Tem cara que se sente bem aqui, se acomoda, vive uma vida aqui dentro. Ah, estou tomando conta. Se ele for roubar, ele vai roubar dinheiro. Ele pode vir pra cadeia, ele roubou dinheiro, ele fica comendo aqui, o governo paga.
O juiz de xadrez era, pois, o ponto de contato entre os dois sistemas de regras. Sobre a massa, o juiz orientava no modo de proceder dos presos uns com os outros. O cara que mora mais tempo no xadrez. Por exemplo, eu A responsabilidade ali de alguma coisa sou eu. Agora tem o mais velho do xadrez. Juiz de xadrez tem o mais velho. E este cara era o juiz de xadrez no teu?
Tudo certo. Por que eu vou falar? Vou ficar mal visto entre meus companheiros? A gente tem que ensinar eles. Qualquer um. Como eles consideram? Consideram caguetas. Todos recebiam apenas uma manta para dormir. Bom comportamento. Vai embora volta, vai embora, volta. Por que tem esse pessoal que vai e volta? Assim se defronta com a ideologia da sociedade tentando exatamente afirmar para si aquilo que a sociedade lhe negava. Agora se sou mal visto aqui, eu vou pra outro lugar, vou fazer tudo pra ser bem recebido, vou viver de acordo.
Tudo conversa fiada. Eu sempre trabalhei, aprontei muito, mas sempre trabalhei, sempre tive bons empregos, entendeu. Quem eram estes outros?
Tal impossibilidade estava sempre depositada na conta do outro. Ele vai pro RPM. Aceitam devido a necessidade. Bolar de novo, novos planos, novos assaltos, novos roubos. Sai daqui e acaba voltando novamente. Quer dizer, ele aceita este ambiente aqui. De onde vem esse cara? E muitos deles fazem as coisas sabendo, premeditada.
Muitas pessoa teme essa cadeia. Um dos presos, que tinha todos os caracteres do modelo ideal de nato, dividia os presos entre os que estavam no crime por revolta e os que nele estavam por necessidade.
O meu motivo foi esse. Os pobres se revoltam. Por causa dele acontece muitas coisas, desespero. Por um lado foi revolta. Matou por coisas banais. Que intimidade? Quer dizer, o fator surpresa dele. A meu ver seria delito, delito agravante, delito agravante. Mas por que delito agravante? Alguns presos costumavam se queixar do fato de serem tratados e serem mantidos como animais na cadeia. A sina de um bandido. O senhor pode ver mesmo que ele tem mais amor do que da alta sociedade.
Depois trabalhei com ele, diretor. Trabalhei 6, 7 meses e agora estou trabalhando aqui. A minha companhia tem que ser meu filho e minha mulher. Bastante coisa sabe, bastante mesmo, isso aqui me ensina muito. Ele vai bater em outra porta. Mas e o campo? Trabalhar aonde e faz o que? No que o estado ajuda o preso? No que? O cara sai geralmente Eles querem acabar com o crime? Se eu soubesse eu tinha vindo antes.
Estou pesando agora 80 e tantos quilos. Eu vou voltar pro crime. Porque eu sou o Simplesmente deixando de lado. Eles ficam em cima mesmo, de uma forma que o elemento fica apavorado. Um elemento, por exemplo, ele pode estar condenado a um ano de cadeia. Eu vou te dizer uma coisa, aqui dentro tem 6. O maior fracasso da gente Sem comer, vai fazer o que? Rendoso como? Eles fabricam um criminoso. Tenho carteira assinada, trabalho e tal. Deus te ajude.
Eu segurava as coisas, falava que fui eu e Ela em vez de dar o apoio Eu mesmo, por exemplo, tive um caso com um advogado. Isso foi em Fiquei louco. Nunca mais apareceu. Primeiro pelas conversas dos advogados. Naturalmente que os advogados fazem tudo pro cliente naturalmente, para tirar o cliente da cadeia.
Eu nunca confiei em advogado. Com 15 dias na Casa me apareceu um fulano ai, que disse que em 30 dias eu estava na rua Eliminamos uma cama do xadrez, ficamos morando em Eles querem falar porque Porque eu nunca vi tanta gente ser espancada, violentada.
O malandro muitas vezes perde a sua dignidade, porque quer se formar aqui dentro e qualquer coisa fere a masculinidade. E eu pedi ao diretor pra me mudar por causa disso tudo. Isso me chocou e eu perdi uns amigos bem caros. Pelo jeito de vestir, jeito de Bom, de vestir talvez sim, porque eles tem menos possibilidades. Deve existir uma certa realidade pelo fato do trabalho em si, porque no 2 quase todo mundo trabalha.
Contagem pra que? Quer dizer que E se acontece alguma coisa Sabe por que? Depois comecei a trabalhar, me adaptei, ai fiquei. A cadeia era considerada como um lugar perigoso, selvagem e contra estes conceitos os presos reagiam. Tem que saber fazer o ambiente e tudo. Tem pouco acesso com o setor de expediente. Tem muita gente no xadrez?
Outros tem 10, 15 dependendo do xadrez. Tem cela com muita gente? Jornal do Brasil , Rio de Janeiro, 18 de agosto de Jornal do Brasil, Rio de janeiro, 6 de agosto de O que acontece?
O crime! E para evitar a captura, a morte ou o malogro, apelam para a Umbanda e a Quimbanda, preferindo, naturalmente, os Exus do mal. Deve-se a isso o desenvolvimento dos controles policiais. BIB Paris, Presses Universitaires de France. Paris, Editions Gallimard. The presentation of self in every day life. Nova York, Doubleday. Rio de Janeiro, MARX, Karl El Capital. Buenos Aires, Ed. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 de junho de Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18 de agosto de Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 6 de agosto de Rio de Janeiro, Editora Mandarino.
Mariel; um Ringo a sangue frio. G Buenos Aires, Editora Tiempo Contemporaneo. O crime e os criminosos na literatura brasileira.
Rio de Janeiro, Zahar. Durkheim, E. Las reglas del metodo sociologico. Buenos Aires, Schapire Editor. Barcelona, Editorial Seix Barral. Homens livres na ordem escravocrata.
Asylums; essays on the social situation of mental patients and other inmates. Middlesex, Penguim Books. J Rio de Janeiro,. Paz e Terra. The police. Nova York, Pocket Books. Rio de Janeiro, Paz e Terra. Rio de Janeiro, Artenova. A Mercados metropolitanos de trabalho manual e marginalidade. MAIA, Clive Sol quadrado. Rio de Janeiro, Pongetti. Argonauts of Western Pacific. Desenvolvimento e marginalidade. Barra pesada. Rio de Janeiro, Editora Codecri. Como nascem, como vivem e como morrem os criminosos.
Lisboa, Livraria Academia. The professional thief; by a professional thief. E, teu pai fazia o que? Meu pai era E ela era o que? Todos eles? A maior parte do estudo que eu vim aprender foi na cadeia. Eu morava num bairro muito Era conhecido geral de todo mundo. Jogando bola?
Era um dos caras Log in with Facebook Log in with Google. Remember me on this computer. Enter the email address you signed up with and we'll email you a reset link.
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Michel de Certeau , p. Parafraseando Sandra Jatahy Pesavento , p. Aranha Ainda de acordo com Barros a, p. Talvez tivesse surgido a pergunta entre os historiadores: Por qual caminho Clio quer que trilhemos? Acerca disso, acrescenta Barros , p. Rio de Janeiro: Zahar, Para Chartier , p.
Considerando a assertiva de Barros , p. Claramente, percebemos que a historicidade, a materialidade e as sociabilidades apontam para uma cidade imaginada. Complementa Pesavento , p. Desse modo, Pesavento , p. O historiador Eric J. Conforme Maria Stella M. De certo modo, para Hobsbawn , p.
SILVA, Acerca disso, salienta Adilson Filho , p. Para Brescianni , p. Yuri A. Como sugeriu Pesavento , p. SILVA, , p. Para Pesavento , p. Nomenclaturas foram criadas para dar sentido ou caracterizar as especificidades da cidade, incluindo suas espacialidades e sujeitos. Dessa forma, diversos termos surgiram para designar lugares e identificar os personagens urbanos. Complementa Pechman , p.
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